December 26, 2023 • Capítulo aberto • Direitos humanos
O dinheiro, as leis e o idioma são três importantes instituições criadas pela ordem espontânea, como nos conta o filósofo e economista F.A. Hayek. Não existe uma pessoa a quem se possa atribuir a invenção do dinheiro. Aliás, sem pelo menos duas pessoas, o dinheiro não faria sentido.
Em basicamente todas as civilizações humanas o dinheiro surgiu espontaneamente em formas diferentes (tecnologias monetárias como conchas, sal, gado, metais, moedas, notas de papel, etc), mas sempre com o mesmo espírito. O dinheiro é a tecnologia social que permitiu uma melhor cooperação humana e possibilitou a especialização e a divisão de trabalhos através do cálculo econômico, possibilitando a melhor alocação de recursos, a criação de economias de escala e o planejamento do futuro.
O dinheiro possibilita comprar tudo que você precisa com apenas uma troca. Em uma sociedade sem dinheiro, você precisa saber que o vendedor de carne quer sapatos em troca de seus produtos, que pode ser diferente do vendedor de produtos de limpeza – que deseja tecido –, enquanto o vendedor de roupas quer sal, etc. Tendo dinheiro você sabe o que todos querem – que é dinheiro – e consegue fazer um orçamento, uma previsão de quanto do seu salário você pode economizar ou um planejamento de quanto precisa trabalhar para comprar uma casa nova.
Durante os milênios de nossa história, quando povos diferentes se encontravam, suas tecnologias monetárias também interagiam. Quando os europeus descobriram que povos africanos usavam miçangas de vidro como dinheiro, eles usaram sua tecnologia de produção dessas miçangas para “imprimir” o dinheiro africano e comprar suas propriedades por bagatelas. Isso obviamente inflacionou a moeda desses povos e os empobreceu, enquanto enriqueceu os europeus, fazendo essa tecnologia monetária antiga virar somente história. Isso não é um conceito novo. Durante a segunda guerra, nazistas despejavam de aviões libras esterlinas na Inglaterra, impressas na Alemanha, para desestabilizar a economia britânica e facilitar um ataque.Ou seja, uma propriedade muito importante do dinheiro é o que Nick Szabo chama de custo infalsificável, ou seja, uma boa tecnologia monetária deve ser comprovadamente muito cara de ser fabricada, forjada, minerada ou impressa.
Hoje nós passamos pelos mesmos problemas que esses povos africanos. O banco central do Japão, por exemplo, já é dono de mais de 60% do mercado financeiro japonês de ETFs. Apesar de ser muito difícil para o cidadão comum imprimir dinheiro, o custo para o governo imprimir dinheiro é praticamente zero. Não só isso, é uma prática comum, parte da chamada política monetária de um país.
Enquanto, antigamente, o dinheiro era uma commodity – um produto como gado, sal, ou metal, que precisava de recursos reais e um trabalho real para ser produzido/extraído –, hoje é simplesmente um número impresso num pedaço de papel ou até “zeros e uns” num computador, que podem ser alterados com poucos cliques, sem a commodity que existia por trás restringindo a impressão ilimitada. A inflação gerada por esse aumento proposital na quantidade de dinheiro é chamada pelo Nobel em economia, Milton Friedman, de imposto inflacionário, ou seja, um decréscimo oculto e proposital do poder de compra do cidadão.
Quem está hoje chegando aos 50 anos de idade deve ainda ter uma lembrança do processo de hiperinflação pelo qual o Brasil passou nos anos 80. Impedidos de guardar seu dinheiro (que em dias virava pó), os brasileiros eram obrigados a investir na caderneta de poupança para evitar a corrosão de seu patrimônio e, em 1990, o recém-eleito presidente Collor decretou o confisco da poupança tentando eliminar a inflação. Os brasileiros acabaram sem poupança e com hiperinflação até o Plano Real, em 1994, que atacou a raiz do problema: o gasto do governo subsidiado por impressão de dinheiro. Mais recentemente, em 2008, houve a maior crise econômica desde 1929. Enquanto o mundo inteiro sofria com as consequências da crise, os bancos que a causaram foram resgatados com dinheiro impresso pelo governo. Os governantes usam seu poder sobre o dinheiro para mudar as regras do jogo a seu bel prazer e em benefício próprio às custas do cidadão comum.
Mais do que uma nova tecnologia monetária, o bitcoin é a evolução do dinheiro como conhecemos hoje, tendo sido criado especificamente para resolver os problemas mencionados acima. Junto desses problemas, são corrigidos vários incentivos perversos hoje existentes, além de se tornar acidentalmente o melhor investimento da década, se valorizando em praticamente 3.000.000.000% desde o início, quando primeiro adquiriu valor em 2010.
Conheça o autor
Continue lendo
-
Índice do Livro
January 23, 2025 • Capítulo aberto
Alivie sua curiosidade dando uma espiada no índice completo do livro, com links para os capítulos abertos.